Após momentos de turbulência, organização das Olimpíadas do Rio recebeu boa avaliação do COI, mas tem de conviver com críticas de movimentos sociais e metas descartadas
Ao chegar à data emblemática de 500 dias para a abertura dos Jogos Olímpicos de 2016, que ocorre nesta terça-feira, a cidade do Rio de Janeiro convive com sentimentos distintos. Se por um lado exibe com uma ponta de orgulho a boa impressão deixada à comissão de avaliação do COI (Comitê Olímpico Internacional), após a última visita de inspeção, em fevereiro, por outro encara com resignação o fato de que alguns compromissos da candidatura de 2009 não serão cumpridos. Sem contar que deverá ver crescer manifestações de grupos populares contrários aos Jogos.
Veja imagens das obras em andamento para os Jogos Olímpicos de 2016
12345678910111213141516171819202122232425
Os avanços realizados nos Parques Olímpicos da Barra e de Deodoro foram muito animadores, com ambas as áreas sendo preparadas para deixar legados fantásticos para o povo carioca e atletas brasileiros, elogiou Nawal El Moutawakel, presidente da Comissão de Coordenação do COI, após a visita realizada em fevereiro.
Acompanhe todos os detalhes para os Jogos de 2016 no blog Espírito Olímpico
Mas não foi somente o ritmo mais acelerado das obras que mudou completamente o humor dos cartolas do COI, especialmente após uma cobrança mais dura e ameaça de intervenção feita há quase um ano, quando uma série de críticas de dirigentes de diversas federações internacionais em relação ao atraso no ritmo dos trabalhos nas várias arenas ligou um alerta amarelo em Lausanne, sede do comitê olímpico internacional, que fez duras cobranças aos organizadores brasileiros.
Leia também:
+ A 500 dias do Rio 2016, ansiedade pelos Jogos não pode tirar de vista os problemas
Após um acerto político entre as três esferas de poder envolvidas na organização das Olimpíadas (municipal, federal e estadual) e a definição da Matriz de Responsabilidade, o COI passou a ter mais segurança de que as obras sairiam do papel, o que de fato aconteceu. Outros pontos importantes, como a definição do início do processo de venda de ingressos, a partir do próximo dia 31, o lançamento das mascotes olímpicas e a divulgação do calendário de eventos testes, a partir de julho próximo, também serviram para tranquilizar o Comitê Olímpico Internacional.
Leia ainda: COI se impressiona com evolução das obras para Rio 2016, diz Ministério
Se você tirar uma fotografia dos Jogos 2016 neste momento, será possível ver que todas as obras estão em andamento e no prazo e o orçamento definido, sem dinheiro público no comitê organizador. Veja bem, não estamos falando de Olimpíadas na Alemanha e sim no Rio de Janeiro. Mas agora é hora de colocar o bloco na rua, iremos colocar 21 eventos-testes em ação neste ano e não perder tempo, afirmou Mario Andrada, diretor executivo de comunicação do Rio 2016.
O sentimento de otimismo também existe em representantes do governo federal. Desde a última visita, houve progresso nas obras de instalações esportivas, na construção da infraestrutura da cidade, no recredenciamento do laboratório de controle de dopagem e no projeto de revezamento da tocha olímpica, entre outros pontos. A Vila Olímpica, por exemplo, está com 73% de conclusão, afirmou o secretario adjunto do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser, em entrevista exclusiva ao iG Esporte.
Promessas não cumpridas
Porém, a marca de 500 dias para as Olimpíadas do Rio de Janeiro também traz evidências de que muito coisa na organização dos Jogos deixa a desejar. Talvez o principal ponto negativo que o Rio levará no balanço final dos Jogos de 2016 seja o não cumprimento da promessa feita no dossiê de candidatura em despoluir 80% das águas da Baia de Guanabara, local das provas de vela em 2016. Durante a última visita da comissão do COI, em fevereiro o governo Luiz Fernando Pezão disse que essa marca não será atingida, no máximo alcançará o índice de 49% de águas despoluídas.
É claro que a declaração do governador não passou batida por parte de alguns dos principais velejadores brasileiros, os maiores críticos das péssimas condições que encontram nas águas da Baia, local diário de treino de muitos deles. Se em um, dois, cinco anos após a meta ser lançada ainda não tinham tomado o passo na direção certa, não ia ser em 2016 que resolveriam esse assunto, afirmou Martine Grael, campeã mundial da classe 49er, ao jornal O Globo.
Leia ainda: Riscos, pressão e escombros: a rotina de quem desafia as remoções da Rio 2016
Na última segunda-feira, em entrevista ao canal Sportv, o prefeito Eduardo Paes minimizou os efeitos que os problemas da sujeira na Baia de Guanabara pode dar aos Jogos. "A área de regatas é a mais próxima da saída para o mar, então fica menos poluída. Além disso, as Olimpíadas serão realizadas em uma época com pouquíssima chuva", disse Paes, que admite criar um plano de contingência para controlar a quantidade de detritos na água durante as provas. Mas no final, admitiu uma ponta de frustração. Despoluir completamente a Baía de Guanabara é algo que deveríamos ter conseguido fazer, reconheceu.
Outra promessa que constava no dossiê de candidatura era que a compra de todos os equipamentos esportivos que serão usados nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos (bolas, redes, barreiras de atletismo etc) ficariam na conta do comitê organizador. Após um acordo, este custo (ainda não estimado) será arcado pelo Ministério do Esporte, com a justificativa de que eles serão repassados às diversas confederações para uso após as Olimpíadas.
Manifestação à vista
Os Jogos de 2016 também chegam à marca de 500 dias para seu início sob forte oposição de movimentos sociais contrários à realização do megaevento. Um dos mais combativos é o Ocupa Golfe, que se opõe à construção do campo em uma área de preservação ambiental na Reserva de Marapendi. Desde dezembro de 2014, um grupo de pessoas ocupa uma área em frente à entrada do campo, que já tem suas obras em estágio avançado – cerca de 95% já estão concluídas.
O movimento tem como bandeira principal dar uma visibilidade a uma causa que não é nova, que vinha se arrastando há três anos no Rio de Janeiro, com uma série de denúncias que não eram repercutidas pela mídia local, em relação ao campo de golfe. A partir da ocupação, até a mídia internacional começou a se interessar por tudo o que estava ocorrendo, afirma o advogado Jean Carlos Novaes, que atua junto ao Ocupa Golfe dando apoio jurídico e também auxiliando na parte de divulgação.
E mais: COI enfrenta protesto de ambientalistas em último dia de visita ao Rio
Segundo Novaes, não apenas os problemas da questão ambiental, chamados de escandalosos pelo grupo, como também os procedimentos usados pelo prefeito Eduardo Paes para conseguir a aprovação da obra, vem sendo divulgados constantemente pelo Ocupa Golfe. Foi permitido construir um campo de golfe olímpico no mesmo local onde a construtora previa a construção de um campo de golfe de lazer para um condomínio, chamado Reserva Uno. Só que seria algo bem menor, até por ter sérias restrições ambientais no local, afirmou.
O grupo contesta ainda que tenha sido doado para a obra, em uma PPP (parceria público-privada), uma área cujo valor estimado é de R$ 300 milhões, sem que este contrato tivesse sido divulgado. O dano ambiental é irreparável, o campo está praticamente pronto. Nosso objetivo é que o caso siga na Justiça e os responsáveis por este crime sejam punidos, mesmo que depois das Olimpíadas, disse Novaes, que prevê a realização de vários protestos durante a época dos Jogos.
A perspectiva destas manifestações não tira o sono do comitê organizador dos Jogos. Na última visita do COI, o movimento contra o campo de golfe fez uma manifestação que reuniu 14 pessoas. E quando o presidente Thomas Bach saiu do hotel para conversar com eles, ouviu apenas gritos e xingamentos. Nós estamos abertos ao diálogo, mas eles não querem dialogar. De qualquer maneira, todas as manifestações são democráticas, afirmou Mario Andrada.
Fonte: IG