Os impactos da tecnologia no varejo criam novos desafios para o setor
SÃO PAULO - Sobreviver às mudanças de hábitos de consumo requer reformular negócios. No varejo, adaptar-se à revolução tecnológica é primordial.
A Profa. Dra. Regiane Relva Romano acredita que o primeiro e maior problema do setor é a falta de um software de gestão: 99% das empresas do setor não possuem um sistema que organiza suas vendas, faturamento, indica quais produtos vendem mais, e qualquer outra informação sobre sua operação de forma automatizada.
Em evento organizado pela APAS (Associação Paulista de Supermercados) nesta terça-feira (30), a professora do Smart Campus Facens apresentou as duas etapas do que chama de Próxima Geração de Negócios e os desafios. E explicou que a partir desse primeiro passo - o software -, é possível implementar uma série de outros recursos tecnológicos que já existem, que vão ajudar a transformar o varejo para se adaptar a uma nova fase de consumo, que já começou.
Com um bom software de gestão, empresas do setor podem começar a trabalhar com identificação de clientes, que inclui biometria e reconhecimento facial. Com essas informações em um banco de dados, é possível criar um atendimento personalizado para oferecer o produto certo e aumentar as chances de vendas, além de fidelizar o consumidor que achou exatamente o que precisava na sua loja, diz Romano, que também é CEO da Vip-Systems.
Seguindo essa lógica, o varejo pode oferecer promoções também customizadas e consegue organizar os produtos dentro da loja de acordo com o comportamento dos clientes. Ela destacou também novos formatos de venda, como quiosques.
A Amazon trabalha esse modelo muito bem e o Walmart anunciou recentemente quiosques dentro das suas próprias lojas. Os clientes podem comprar e sair da loja de forma prática e rápida, diz.
Há ainda, as máquinas de vending machine, ou máquina de venda automática, dentro das lojas e que podem aumentar as vendas.
O segredo é cada vez mais usar a tecnologia para atrair e agradar o consumidor. Por exemplo, gamificar, que é a venda por meio de jogos, e interagir com o cliente é bom para ele que quer comprar e para você que quer vender, explica.
Outro passo importante tem a ver justamente com entretenimento. Vender de forma lúdica é fazer a pessoa consumir enquanto brinca e se diverte. Isso é um diferencial. Realidade virtual e realidade aumentada também entram nesse grupo. As empresas precisam pensar em novas formas de oferecer seus produtos".
Ela diz que em outros países, como China e EUA, esses formatos e muitos outros, como câmeras que analisam as expressões dos clientes quando eles olham para cada prateleira, já é realidade.
Além disso, novos formatos de pagamento também precisam se desenvolver no setor. A tecnologia que permite pagar por aproximação já funciona no Brasil, mas ainda está longe de ser algo amplamente utilizados pelos consumidores por falta de confiança. Até mesmo o polêmico Bitcoin e as criptomoedas são agentes desse processo.
Considerando todas essas possíveis tecnologias que podem ser implementadas e já estão disponíveis para serem usadas de forma estratégica para o varejo, um segundo processo começa.
A partir disso precisamos integrar toda essa tecnologia no negócio, pensar em oferecer tudo de forma padronizada com uma infraestrutura adequada, comunicação eletrônica, aplicativos bem estruturados e usar a internet e as redes sociais a favor da companhia", afirma Romano.
Nessa etapa, a empresa também deve começar a pensar no uso de drones dentro das lojas para inventários, fora das lojas para entregas, impressões em 3D e radiofrequência, por exemplo.
São duas etapas complexas que vão levar à Internet das Coisas, deixando as lojas de varejo inteligentes e integradas. Embora seja um desafio para o modelo que existe atualmente no Brasil, a especialista acredita que a empresa que não inovar no sentido desses processos vai morrer.
O impacto da Internet das Coisas nos negócios atualmente chega a US$ 8 trilhões ao redor do mundo.
Romano destaca que todo o mercado está se transformando e obrigando as empresas a inovar justamente pela chegada dos Millennials, ou a chamada Geração Y, que são os consumidores que têm entre 20 e 39 anos hoje.
Eles mudaram tudo porque fazem negócio com a marca. E trabalham com o que chamamos de ME2B, ou seja, eles decidem o que querem comprar e esperam que as empresas ofereçam e entreguem esse produto. Essa turma pensar em ser ao invés de ter está mudando totalmente a lógica do varejo, afirma Romano.
Segundo ela, a missão das empresas de varejo é fazer um bom Storytelling porque essa geração precisa acreditar no que está comprando. A empresa tem que vender e está alinhada ao que está oferecendo, diz.
Essa geração é multi-telas e multicanais e, segundo a especialista, costuma-se classificá-los como consumidores Omnichannel, mas eles não se veem assim.
Para os Millennials não importa onde e como estão comprando, mas sim o valor que isso agrega. Por isso, consumir do computador de casa, do celular, da loja não faz diferença. O que nos leva ao que chamamos de Unified Commerce: o cliente no centro de tudo, afirma.
Para a especialista, o varejo precisa adotar esse estratégia de dar atenção ao seu cliente. Hoje o que chamávamos de Omnichannel, nada mais é do que a personalização, diz.
Ou seja, com essa nova era a empresa do varejo precisará integrar saúde, bem estar, entretenimento, gamificação e realidade aumentada para vender o arroz e feijão, afirma.
Segundo ela, é preciso desmistificar que a tecnologia é extremamente cara e apenas para os grandes negócios. Todo mundo pode implementar.